Chegaram as férias escolares e a minha família já estava de malas prontas para seguir viagem para a fazenda dos meus tios. Confesso que este tipo de programa já não era mais de meu agrado, mas o que fazer se meus pais não abriam mão de poderem desfrutar da vida na fazenda. Gostavam muito de lá, pois praticamente tinham sido criados naquela região de Vassouras e estar lá, para eles, era retornar as raízes, rever os amigos e parentes que continuavam lá e todos eram fazendeiros.
Desde criança sempre estive na fazenda e lá ocorriam algumas coisas estranhas que os caseiros e moradores de lá sempre contavam. Falavam de bruxas, de casas mal assombradas , de pessoas que tinham sido levadas a loucura por terem visto assombrações misteriosas. Isso tudo me deixava empolgada quando criança, mas agora que já tinha meus 17 anos não tinha mais graça e pelo contrário me deixava até um pouco apreensiva.
Chegando à fazenda fomos direto para a casa principal para nos acomodarmos. Depois disso estariam servindo o almoço e seria um momento de cada um contar a sua história e meus pais passariam horas ali conversando. Com isso ficaria sem saber o que fazer a não ser ir visitar a fazenda, ver as vacas, os cavalos e conversar com os boiadeiros e as mulheres que serviam a casa. O caseiro tinha duas filhas que nos conhecíamos desde criança e sempre aproveitava para saber das novidades e até aproveitar alguma festa que tivesse por acontecer na região.
Elas se chamavam Rita e Renata e assim que cheguei vieram correndo me cumprimentar e ficamos algumas horas conversando, falando sobre namorados, colégio e outras coisinhas de mulher. Elas sonhavam em um dia poderem viver na cidade grande e estavam estudando para isso. Combinamos de passear juntas pelas redondezas no dia seguinte pela manhã.
Estava em meu quarto dormindo gostoso, quando sou despertada pelo som dos galos que era melhor que qualquer despertador. Ainda fiquei algum tempo na preguiça e acabei levantando, pois havia combinado de me encontrar com as meninas.
Depois do café saímos para passear pela região e o tempo estava ajudando porque estava um lindo dia de sol e os jardins estavam todos floridos com o chegar da primavera. Passados algum tempo avistamos, numa ruazinha que ficava atrás da fazenda dos meus tios, uma casinha que para mim não existia quando vim da última vez. Perguntei a elas de quem era a casa, se conheciam quem morava lá.
Ritinha foi logo falando meio agitada :
- Janaina nessa casinha quase não vejo ninguém por lá. Quem construiu foi meu pai que era para guardar madeira, o cortador de grama , remédio para as plantações e sei lá mais o quê. Só que uma vez entrei aí e estava tudo escuro e me pareceu que tinha um homem dormindo lá. Escutei o ronco, mas não deu para ver quem era e sai correndo.
Escutei aquilo tudo que a Ritinha contou e fiquei curiosa em ver a casa por dentro. Perguntei se a casa estava fechada com chave e claro que disseram sim.
- Onde está a chave da casa? Perguntei para elas.
- Deve estar lá em casa no quadro de chaves acredito, respondeu a Renatinha.
- Então vamos lá pegar as chaves para visitar a casa, fui logo falando.
Elas me olharam meio de lado e foram logo avisando que não iam entrar lá e que poderiam até me acompanhar até o lado de fora. Para mim tudo bem, eu queria era matar minha curiosidade e também preencher o meu tempo e isso me divertia.
Fomos até a casa delas e sem que percebessem pegamos a chave da casa. Voltamos para o nosso passeio retornando para o mesmo local e paramos em frente à porta da casa que , segundo Ritinha, havia estranhos dormindo por lá.
Como elas não queriam vir e sabendo que qualquer coisa elas estariam do lado de fora abri a porta e entrei. Assim que entrei a porta, que era de um aglomerado foi logo fechando e aí que ficou um breu lá dentro e não arriscava nem a dar um passo porque não enxergava nada.
Abri a porta e coloquei um pedaço de madeira permitindo entrar um feixe de claridade que dava para enxergar com um pouco de dificuldade. Olhei tudo em volta e realmente tinha algumas madeiras no chão e alguns sacos que pareciam de farinha. Mais a frente avistei uma maleta sobre uma bancada o que me deixou curiosa. Como ficava no fundo a luz era pouca, mas me abaixei para enxergar melhor e fui logo abrindo a maleta e quando vi o que tinha dentro me apavorei. Fechei rapidamente a maleta e sai correndo, empurrei o pedaço de madeira fechando a porta, passando a chave e fui logo dizendo para as meninas:
- O que vi aqui dentro não está me cheirando à coisa boa e é melhor colocar essa chave de volta no mesmo lugar e esquecer que estivemos aqui OK?
- Minha Nossa Senhora , mas que foi que você viu Janaina de tão ruim? Perguntou Ritinha
- Ritinha a maleta que tem aí dentro está cheia de pacotes de dinheiro e os sacos de farinha não me parecem ser de farinha da boa e é melhor a gente ficar fora dessa encrenca.
Elas acenaram com a cabeça concordando e fomos direto para casa e passamos o resto da tarde proseando pela fazenda mesmo.
No dia seguinte, sem comentar com as meninas, fui falar com meus pais e contei tudo que tinha visto. Eles estranharam isso tudo e dali para frente à coisa ficou no controle deles. Não sei quem foi o culpado, nem que era o bandido e nem quem era o mocinho. A verdade é que o que diziam de casa mal assombrada deixou de existir e havia sim casa que era depósito de dinheiro e de drogas que só gente do mal é que podia estar intermediando e usufruindo de um dinheiro sujo.
O fato é que depois de tudo que aconteceu os meus pais resolveram voltar para casa e passamos o resto das férias na nossa casinha. Fiquei muito feliz porque pude ficar com as minhas amigas , curtir uma boa praia, passear no shopping e assistir a muitos filmes no cinema.
Rene Santos
5a. Edição Projeto Entrelinhas
Imagem retirada da NET
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